Coisas do Tempo – A nossa geração e as que virão
(Parte de uma conversa virtual que tive numa noite de novembro)
Você já percebeu o privilégio que a próxima geração terá em poder ter, pela primeira vez na história da humanidade, esse acervo enorme de vídeos e mais vídeos que mostrarão a eles a infância, adolescência e a juventude de seus pais enquanto eles estiverem vivendo uma dessas fases?Eles olharão as fotos, não mais turvas, de baixa qualidade ou em borrão preto e branco como as de antigamente, mas com toda a riqueza de cor viva e detalhes, assistirão os vídeos que a algumas décadas atrás seria impossível se ter para gravar algo tão particular como o primeiro beijo na namorada, que hoje conhecem como mãe, e dirão: “Olha, mamãe e papai eram como nós”, e talvez o menino possa dizer: “Uau, como a mamãe era gatinha. Entendo porque o pai quis beijá-la logo quando a viu”. Ou então a menina diga: “Mamãe viveu tudo isso quando tinha a minha idade de agora. Será que ainda é possível encontrar alguém como eles dois hoje em dia?”. E não só os filmes que filmamos, os áudios que gravamos, as fotos que tiramos e, claro, as músicas que escutamos, mas os versos, as prosas, as rimas..., as conversas, os lugares visitados e ainda não visitados também. Todas as histórias e os conselhos... A próxima geração terá a incrível regalia de viajar no tempo, de seus lugares e de suas histórias e reviver, mais do que nunca, os acontecimentos da época deles, da nossa época.
Não só os nossos filhos, mas toda a próxima geração vai experimentar o auge da imersão nas memórias dos primeiros contatos daqueles cuja a união formou o seu sangue. Poderão ver o quanto o sorriso da mãe mudou, a barba antes não existente do seu pai cresceu e como eles, os seus pais, eram como eles, os filhos, ao mesmo tempo em que perceberão que, definitivamente, a adolescência deles é bem diferente da adolescência de seus pais, da nossa, a qual se vive hoje, assim como nós vivemos uma outra diferente daquela dos anos 80, que foi a adolescência de nossos pais.
Adolescências distintas pelo tempo sem deixar de ser a adolescência experiencial, como eras diferentes que acontecem no mesmo planeta, criando a impressão de mundos e mundos que começam e acabam, mas subsistem dentro das canções que continuam e carregam o espírito daquela época, do passado; a nostalgia de hoje. E mesmo com todas essas diferenças, no final eles vão acabar percebendo que a distância gerada pelos costumes da geração não pode ser maior que a aproximação de trocas que teremos com eles, maior do que qualquer tecnologia possa possibilitar.
Eles também terão em mãos as imagens do dia de seus nascimentos as quais verão curiosos desde pequenos até quando já estiverem grandes, tudo isso com uma facilidade tremenda. Não haverá mais fita cassete para empilhar e resetar, mas espaços infinitos em nuvens digitais tal como é o espaço que abriga as nuvens reais.
Mas mais que memórias num disco rígido, plugados como extensão de armazenamento, ou em nuvens virtuais, eu particularmente acho muito importante manter, e até reforçar, o trabalho de contar a eles oralmente, palavra por palavra, como faziam os mais antigos. E contar como foi a história de seus pais, de seus avós e de tudo mais que pertença a história e ao DNA deles. É importante não abandonar essas coisas porque uma vez que se tenha toda essa facilidade que é tão rápida, tão compacta, tão instantânea e tão resumida para guardar e registrar memórias, ela também é, em si, muito superficial quando o que conta já não é mais uma pessoa que viveu aquilo, naquela época, naquele cenário, com todos aquelas emoções e sentimentos, mas sim uma máquina que só projeta uma imagem, um registro, mas ainda não substitui a boa narração de um pai ou uma carta escrita por uma mãe.
Gabriel Rocha
24.09.18
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Foto tirada em Santa Teresa - ES.
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Foto tirada em Santa Teresa - ES.
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