Psicologia da Educação (PORTFÓLIO UNIVERSITÁRIO)

PORTFÓLIO UNIVERSITÁRIO - II PERÍODO: Psicologia da Educação

 INTRODUÇÃO

O presente documento reúne um compilado de anotações das aulas ministradas ao longo dos encontros síncronos da disciplina de Psicologia da Educação e Desenvolvimento, onde nos foi apresentado o objeto de estudo da psicologia, seus conceitos introdutórios, vertentes principais e parte do percurso histórico e teórico da mesma. 

Para tanto, o método de exposição empregado na elaboração do trabalho se utiliza de uma linguagem simples e resumida com o objetivo de se fazer compreender mesmo dentre os leitores mais leigos no assunto, sem com isso abrir mão da possibilidade de explorar os diversos temas aqui abordados. Nisso, durante o texto se faz patente um modo de exposição dinâmica: em um momento efetuamos o desenvolvimento de um tópico acompanhado de reflexões e comparações cotidianas e, no outro, entregamos uma síntese resumida ao leitor.


I. O FUNDAMENTO DA PSICOLOGIA

A Psicologia está intimamente ligada com a instância mais subjetiva que ocorre em nós. Isso não apenas como área de estudo, mas desde a sua origem enquanto uma série de indagações em uma visão mais filosófica, que se prestava a compreender melhor o universo interior que nos compõe, como também nos dá prova a sua própria etimologia, até naquilo que tem como objeto de estudo que vem sendo pesquisado de forma mais sistemática atualmente.

As raízes do termo "psicologia" tem origem no grego antigo ("psyché") e faz alusão a alma, enquanto o "logos" por sua vez se refere àquilo que se relaciona com a nossa inteligibilidade, algo de caráter racional. É válido lembrar que o conceito de alma já sofreu muitas alterações e interpretações conforme a cultura que o empregava, bem como continua a sofrer ainda hoje. Difícil encontrar alguém que não tenha uma definição própria para esse conceito. No caso da psicologia, a "alma" nada mais é do que uma representante da nossa atividade mental. Assim, o que o termo busca nos propor é um estudo da mente; os seus fenômenos característicos, sua formação e uma possível estruturação para ela.

Há quem a interprete a mente do ponto de vista mais metafísico e transcendentalista que possibilite sua fé, enquanto outros, o fazem do modo mais fenomenológico e clinicamente sistematizado que podem. Aqui se percebe um tipo particular de psicologia, bem mais familiar dentre aqueles que não dependem de nenhuma especialização formal ou conhecimento técnico a respeito dela como área de estudo; esta é a psicologia do senso comum. Trata-se de um conjunto de convicções compartilhadas por uma cultura sobre a experiência humana e seus comportamentos que acompanham considerações pouco comprováveis em sua maioria, mas ainda têm, no seu fundo, alguma sabedoria popular e que possibilita até certo nível uma compreensão de mundo satisfatória para a demanda cotidiana.

Interessante observarmos não só teóricos ateus no percurso histórico da psicologia que foram responsáveis por prestarem grandes contribuições a área, como Sigmund Freud, como também cristãos e místicos ao complementarem e trazerem observações a partir de suas experiências, ao exemplo de Carl Jung, o que nos permite constatar que a psicologia como área de conhecimento ainda é, tal como foi, um espaço diversificado e acolhedor de múltiplas visões de mundo. Por ser um campo que fez apenas crescer com o passar do tempo, se ramificando em várias repartições, segmentos e teorias, essa diversidade de consideração do objeto de estudo só foi possível graças a não domesticação desse campo por nenhum dogma e a consideração de que a riqueza de conhecimento se faz com o plural de ideias, e consequentemente, de autores. Esse é um traço forte que a psicologia divide com algumas outras áreas do conhecimento humano.


II. A PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO

Existe um segmento da psicologia que se dedica especialmente a estudar o desenvolvimento humano sob critérios científicos. A considerar que o homem compreende três dimensões distintas na perspectiva desse estudo, temos então a dimensão física, a cognitiva e a psicossocial.

Tomemos como exemplo a adolescência. Enquanto a puberdade compreende uma etapa do desenvolvimento físico do indivíduo, a adolescência é uma etapa cognitiva e de dimensão psicossocial; o que significa que a adolescência tem a ver com um processo psicológico, não com a idade cronológica. Você pode ou não ser adolescente e ter 18 anos, como alguém pode ter 30 e ser, ainda, um adolescente.

Assim, uma das características que se faz presente na adolescência é a chamada “crise de identidade”, sendo “identidade”, segundo a definição de Osório (1992):

“o conhecimento por parte de cada indivíduo de ser uma unidade pessoal ou entidade separada e distinta dos outros, permitindo-lhe reconhecer-se o mesmo a cada instante de sua evolução ontológica e correspondendo, no plano social, à resultante de todas as identificações prévias feitas até o momento considerado” (1989, p.15).

O indivíduo e suas recorrentes transformações em função do tempo é o ponto principal a ser estudado nessa disciplina, de modo que uma vez que tenha percebido uma relação constante de fenômenos e condutas em uma determinado período do desenvolvimento, é possível demarcá-los como uma fase do desenvolvimento, o que nos ajuda a prever tais modos de conduta. Dessa forma, conseguimos tecer determinados padrões comportamentais para cada fase da vida com base no que foi analisado e, assim, oferecer tratamentos e cuidados específicos equivalentes à demanda de cada fase.

Humano, Demasiado Humano

(sobre o objetivo da psico. do desenvolvimento: como e por que o ser humano muda ao longo da vida; o que é o homem?)

Se mudamos recorrentemente, então, o que de fato somos? Ou então, uma vez não sendo coisa alguma, o que podemos ser considerando que sempre, ao menos, podemos uma vez nada ser por definição prévia?

Ora, essas questões não são novidade alguma enquanto supostas conclusões sistemáticas que sentenciam toda a essência humana dentro de duas realidades possíveis: ou o sujeito “nasce sendo”, e só o é em sua imanência graças ao seu capital de inerências predeterminadas pela carga hereditária que incide brutalmente nos interesses, habilidades e aptidões, antes mesmo dele ter a chance de sair do ventre – pois tudo já lhe é inato antes que ele possa experimentar e decidir basicamente qualquer qualidade sobre si –, e com isso admitimos o inatismo, ou ele não é coisa alguma, nem o que se presumia ser pela mera constatação sensorial, tendo que se "jogar em todas" se quiser saber o que é, ou, não sendo muita coisa a não ser um alguém, o que quer ser e com isso admitimos o empirismo2.

Um pardal, nesse sentido, tem uma vida muito mais tranquila e fácil de cumprir do que os humanos dotados de uma cognição e inteligência única que extrapola todas as demais espécies conhecidas e, ainda assim, conhecendo e percebendo tanto, o maior desafio encontrado na vida é conhecerem a si mesmos... Quiçá seja justamente o fato de terem essa cognição consciente de si mesma que torna esta constatação (existir, e existir enquanto humano) uma pergunta e encontram nela a ausência de uma resposta. Aliás, para nós tudo vira uma constatação, e da constatação, uma pergunta; daí a melhor saída seria não ser para não sofrer. Quanto mais se 'é, é, é', mais se 'sofre, sofre, sofre', equivalente a intensidade do 'ser' que é experimentado.

E cá estamos, mais uma vez, na questão milenar, sempre retornando com indagações diferentes sobre o mesmo tema: o homem. Natureza invariável acima do "eu-neurológico" ou consciência incide sobre o "eu-corpo"? Quanto a genética, a criação e o espaço podem influenciar o indivíduo, e o quanto ele poderia existir sem essas dimensões? Aliás, o indivíduo realmente existe como entidade unitária consciente ou isso não passa de uma grande invenção se não ao menos uma confusão? Onde termina a indução e onde começa o verdadeiro atributo humano, se é que isso existe? A matéria precede a ideia (materialismo) ou a ideia à matéria (idealismo)? Predestinação ou livre arbítrio? Afinal de contas, o que é ser humano?

A gente quase sempre assimila o termo humanidade como uma virtude, uma coisa boa e que deve ser preservada a todo custo para se alcançar um nível maior de consciência, ao mesmo tempo que usamos também como sinônimo de limitação, de uma certa impotência intrínseca da natureza de todos os que se encontram nessa condição. A clássica declaração "errar é humano" expressa bem isso. Mas subentendendo que errar é o que nos faz humano, por que então tanto se prega e procura sempre mais humanidade se já somos o que ela parece propor? Quer dizer, se tanto erramos como acertamos e se somos, assim, impotentes, característica do ser humano que é o mesmo que dizer humanidade, qual o valor dela? Nisso, parece que temos duas "vias" de humanidade: a medíocre, no sentido que se tem em todo canto desde que haja gente e que é comum a todo homem; e uma outra que parece aspirar ser algo mais que essa humanidade na idealização de um modo específico de ser-humano que de alguma forma nos parece ser familiar, sem deixar de ser humano, o que realmente é uma total discordância entre os termos.

No mais básico e elementar, tem que se admitir pelo menos que a humanidade é a “qualidade de ser humano”. Dada essa sentença logicista, continua tudo a mesma coisa: disso todo mundo sabe e, dito isso, todo mundo continua não sabendo nada. Porque, afinal, se humanidade é só essa definição normativa, o que é ser humano para que pelo menos buscando ser isso a gente possa nos responder? Vemos assim que a noção de humanidade, e o modo de concebê-la, só pode existir em função do tempo social e histórico que se localiza expresso como cultura na personalidade individual do que se conhece como o indivíduo homo sapiens. Quer dizer, sem os atributos culturais de uma dada sociedade e mesmo as características da particularidade individual apreendidas por essa via da socialização, como a linguagem e consequentemente também o seu pensamento, o que resta é apenas um exemplar da espécie mais evoluída de primata sem, no entanto, nenhuma outra especialização além da sua dimensão biológica: um primata humano genérico.

Então todo mundo vê que, de fato, todos nós somos humanos e ao mesmo tempo não sabemos ao certo o que é ser o que nós somos, senão pelo fato de estarmos sendo à nível restrito (orgânico), no entanto, nem sempre além dele e sem a menor capacidade de explicar caso um extraterrestre nos perguntasse, tamanha a amplitude do que pode caber no "ser humano" e a universalidade absurda que a palavra tenta propor, pois não se sabe o que é ser humano fazendo parte de tal espécie. Eis a dificuldade enorme que tantos têm em serem eles mesmos individualmente, pois não sabem nem o que é ser humano na totalidade do que lhes é comum como ser, quanto mais quando se aprofunda a questão, saindo do abrangente/global, afunilando até chegar ao singular/individual. O que eu sou?

Em Auscwitz, humanos judeus eram agredidos, impostos a regimes de fome, torturados (de todas as formas e níveis possíveis), estuprados e assassinados por humanos nazistas. Não havia nenhuma diferença na constituição de nazistas e judeus, ambos eram igualmente humanos. O que eu não quero ser?

Os prisioneiros, por sua vez, ainda que fizessem parte desse mesmo grupo de primatas, eram retirados de sua humanidade dia após dia, o dia todo, até virarem algo menos do que objetos. O que eu preciso ser?

A diferença que nos é evidente não está no homem como forma, mas como ato. De fato havia uma só espécie humana como classe de primatas presente no campo de concentração, mas só uma parcela dela abriu mão de sua humanidade ao implementar sofrimento humano decidida e sistematicamente àqueles que eram levados até lá. Veja como o que caracteriza o homem de maneira definitiva não está no patamar da forma, não se encontra presente apenas pela sua designação de classe biológica ou cultural nem nunca poderá estar. Tem-se aí nessas categorias um signo meramente, sem valor ou identidade própria embora, sim, possa invocá-lo. Deve invocá-lo. Esse valor que preenche o invólucro é, pelo tanto que já foi dito, a tal humanidade que procuramos. Um atributo universal achado por uma via introspectiva, individual.

O ser humano já foi muitas coisas que o faziam ser humano, e quando deixou de ser muitas dessas coisas, para a nossa surpresa, não deixou de ser humano. As “coisas que somos” são todos esses adereços que complementam a imagem do humano conhecido e produzido por ele mesmo: as vestimentas, os modos, os costumes, as línguas, as suas criações materiais e os seus conceitos imateriais; suas ideias, crenças, e todas as variações culturais que cabem no tempo (história) e no espaço (geografia) e a fusão dessas duas que dá a origem a esse misto lindo e ao mesmo tempo confuso que chamamos de humano enquanto objeto antropológico.

Fora ainda todas essas variantes observáveis, existe aquela peça exclusiva que dirigiu todo o comportamento humano bem como determinou, além do ambiente, a atuação humana tão primordial que a gente pode dizer que sem isto nada seríamos, que é a mente humana, tanto na sua dimensão lógica racional denominada então como psique quanto a totalmente abstrata e não “logicável”, a se saber, os sentimentos, as emoções e toda a consciência; todavia, constituem a mente que transcende o mero aparato cerebral.

Abstraído todas essas enormes variáveis que fazem do homem universal, ou seja, do humano o humano que ele é, a gente então pode começar a tentar entender o que é humano. Perceba que dentro desse ser-caleidoscópio conceitual (o humano) mora essa gama de coisas que nos leva a considerar várias coisas não conceituais e de várias áreas do saber e do próprio ser categorizado em estudo — a psicologia.

Essa talvez seja a pergunta das perguntas: o que é ser humano. E toda vez que alguém ousou dar uma resposta normativa, a realidade do ser humano provou o equívoco do teórico com a mudança que o tempo causava e que nós, coletivo ou individualmente junto com ele, sofremos. Isso porque a mente do pensador que se prestava a formular resposta tão pretensiosa ainda estava muito condicionada ao presente tempo das coisas, como os seus contemporâneos se mostravam. No muito, eles olhavam os seus antepassados.

Com isso, os mais sábios dentre os homens foram aqueles que se ausentaram em buscar dar uma resposta, ou porque na sua sinceridade não viam nenhum ponto para fechar uma conclusão universal ou porque sabiam a resposta com tanta exatidão que tentar expressá-la de outra maneira senão através dela seria desmentí-la, diminuí-la, além do mais estavam ocupados demais vivendo ela para responderem a questão proposta como forma de debate.

Temos alguns slogans populares que também nos transmitem sabedoria sobre isso. "Eu também sou humano!", é talvez uma das frases mais recorridas quando se busca amenizar alguma ação que sabíamos ser ou estar errada mas, além do recurso vitimista de defesa que passou a ser usada, essa declaração expressa mesmo uma verdade, do quão grande e presente são as nossas limitações e o quão pequeno pode ser o nosso controle sobre determinadas circunstâncias assim que nos damos conta. Humano não é perfeito. Se for perfeito, não é humano, e se for humano, não pode ser perfeito. Humano pode ser lindo, na medida em que se empenha para sê-lo tanto quanto pode ser desastroso atendendo o seu potencial humano que também é capaz de se desumanizar, pois o mesmo potencial que opera para um lado pode opera para o outro quando ambos existem num mesmo eixo, cabendo apenas ao senhor que o detém junto de seus tesouros, suas potencialidades, escolher quais usar e como.

Ser humano é carregar a condição de possibilidades infinitas de ser. Isto é humano: uma condição de possibilidades infinitas de, mesmo, 'ser' humano (de escolhas, capacidades, potencialidades). A condição humana carrega dentro de si a possibilidade diversa e múltipla de encaminhamentos de acordo com o árbitro, a vontade e a decisão do ser condicionado a essa natureza e o milagre da percepção pessoal; essa consciência que se identifica, capaz de cogitar e examinar a si própria e realizar essa metanoia, essa metamorfose intrínseca que só é possível ao homem.

Pois ser-humano é de fato este vir a ser, como se propõe o estudo da Psicologia do Desenvolvimento, e a humanidade por sua vez, é o escopo vazio preenchido pela circunstancialidade sócio-histórica que propõe um conteúdo para esse escopo, visto que ser um ser humano é carregar a condição de tudo poder ser. É se saber uma criatura em processo... , enquanto vai se conhecendo, se enxergando e se admirando como o resultado ainda não pontuado deste.


III. PSICOLOGIA EVOLUTIVA

Quando nascemos há muito pouco do que nos singulariza, do que possa de forma nítida e fácil nos diferenciar como um indivíduo diferente de qualquer outro.

Temos, então, a nossa primeira exposição à luz do mundo como “entes genéricos”, sem qualificação alguma de personalidade enquanto, ao mesmo tempo, é justamente esta condição de origem – genérica e desprovida de mim mesmo – que guarda toda a chance de SER. Tendo como meio instintivo e natural para isso, a troca, o diálogo, o convívio em socialização e a existência como caminho próprio. E é buscando ser ele mesmo, o indivíduo, que ele vivencia e desenvolve a mais fascinante das possibilidades possíveis dentre as quais ele poderia se tornar: ele mesmo.

Mudanças sistemáticas no indivíduo, da concepção à morte, nada mais é do que a manifestação do desenvolvimento em atividade. Por serem transições sistemáticas são ordenadas, padronizadas, logo se descartam as mudanças ocasionadas por humor, aparência, pensamento e comportamento. A ciência do desenvolvimento se interessa pelas continuidades desenvolvimentais, as formas pelas quais se permanece ou reflete as experiências ao longo da vida, logo se aprofundam nos estudos desses fenômenos.

Há dois processos subjacentes às mudanças desenvolvimentais, sendo uma delas a maturação, processo referente ao desenvolvimento biológico, responsável pelo desenvolvimento e equiparação de acordo com a espécie. O segundo processo de desenvolvimento é a aprendizagem, apesar de a maturação proporcionar aspectos físicos e psicológicos, a espécie se desenvolve cada vez mais, através de experiências que produzem mudanças relativamente permanentes.

Na busca por descrever, explicar e melhorar o processo, os desenvolvimentalistas observam o comportamento das pessoas de diferentes idades, na tentativa de especificar as mudanças ao longo do tempo. Apesar dessas mudanças serem sistêmicas e seguirem um certo padrão, é impossível ter duas pessoas exatamente iguais, mesmo se os valores e a cultura na qual essa está inserida forem similares. Dentro dessas experiências é possível notar que crianças de mesma idade, vivendo sobre o mesmo teto e tendo instruções iguais, apresentam diferentes interesses, habilidades, comportamentos e afins. Logo, para descrever o desenvolvimento de forma adequada é preciso se atentar ao desenvolvimento normativo (padrões típicos) e idiográfico (variações individuais). Busca-se compreender como indivíduos se desenvolvem de maneira semelhante e ainda assim se diferem ao longo da vida e o fato de determinados indivíduos desenvolverem-se de maneira típica e outros atipicamente. Com esses estudos busca-se otimizar e direcionar o desenvolvimento de forma positiva, prevenindo e sanando problemas de natureza psicológica que culminam, por vezes, em consequências sociais.

A princípio os estudos eram divididos em três áreas, crescimento e desenvolvimento físico, aspectos cognitivos do desenvolvimento e aspectos psicossociais. Todavia, hoje se tem a noção de que a divisão era equivocada, porque uma mudança em um desses aspectos implicam mudanças nos demais. Logo o desenvolvimento é holístico: os indivíduos são seres físicos, cognitivos e sociais, razão de considerarmos atualmente uma visão unificada do desenvolvimento.

Apesar de o desenvolvimento ser um processo cumulativo e contínuo, os desenvolvimentalistas discorrem sobre a capacidade de adaptação, mudanças de acordo com experiências, denominando essa capacidade de se ambientar como uma capacidade possibilitada pela plasticidade.

  • ➔ Continuidades desenvolvimentais: formas pelas quais nos mantemos estáveis com o passar do tempo ou continuamos a refletir nosso passado;

  • Psicologia do desenvolvimento: área da psicologia voltada a identificar e explicar as continuidades e mudanças experimentadas por indivíduos ao longo do tempo;

  • Desenvolvimentalista: qualquer indivíduo do meio acadêmico, independentemente da disciplina, que procura entender o processo do desenvolvimento (por exemplo, psicólogos, biólogos, sociólogos, antropólogos, educadores);

  • ➔  Maturação: mudanças desenvolvimentais no corpo ou no comportamento que resultam do processo de envelhecimento em vez de resultarem da aprendizagem, de lesões, doenças ou outras experiências;

  • Aprendizagem: mudança relativamente permanente no comportamento (ou no potencial de) que resulta de uma experiência prática;

  • ➔ Desenvolvimento normativo: mudanças desenvolvimentais que caracterizam todos os membros de uma espécie, ou a maior parte deles; são padrões típicos de desenvolvimento;

  • ➔ Desenvolvimento idiográfico: variações no ritmo, na extensão ou direção do desenvolvimento;

  • ➔ Perspectiva holística: visão unificada do processo de desenvolvimento que enfatiza as interrelações importantes e os aspectos físicos, mentais, sociais e emocionais do desenvolvimento humano;

  • ➔ Plasticidade: capacidade de mudança; estado do desenvolvimento que pode ser moldado pela experiência.


[OBSERVAÇÕES: Sobre o caráter ético da plasticidade neural]

A plasticidade não só é a capacidade de adaptação e reaprendizagem baseado no desenvolvimento de novas conexões sinápticas como é, para além dessa tática de sobrevivência no nível neural, uma habilidade humana de exercitar e compreender cenários mais complexos, como a própria realidade.

É, bem mais do que somente um recurso de inteligência auto programável em função do ambiente e das demandas, uma possibilidade que lhe permite articular sentidos apreendidos e a própria forma de realizar seus processos cognitivos, de forma a ter capacidade de compreender e responder também a porções da realidade (naturalmente) que se apresentam de modo fragmentado e muitas das vezes contraditórias ao envolver preceitos morais na interpretação de seus cenários. Sobre esse aspecto em particular que me presto a argumentar acerca da grande valia presente nesse recurso que ostentamos o uso, na maior parte das vezes, sem sequer darmos conta devido às relações não muito evidentes que conseguimos realizar com essa plasticidade e que, infelizmente, nem sempre nos beneficiamos dele pelo mesmo motivo.

É o exato oposto da atrofia cognitiva e da incapacidade de abstração de conceitos. Essa faculdade, no entanto, não é obtida sem que haja anteriormente a ela a realização de uma outra, de caráter mais linear e estritamente normativo. Com esse primeiro aprendemos as relações de causa e efeito, herdamos e seguimos juízos de valores, identificamos elementos tal como eles nos aparentam, para que, no decorrer do desenvolvimento desse, sejamos capazes de alcançar um outro nível na medida em que progredimos com a prática de modo a superar esse nível que nos possibilita. Mas até então, pouco se é capaz de abstrair informações de tais elementos, e dessa forma, categorizá-los ontologicamente e fazer demais relações que vão além do mero objeto.

De maneira igual é possível se notar que a sociedade como um todo, tal como o organismo, desenvolveu uma espécie de inteligência plástica operante apenas o suficiente para suprir sua necessidade de sobrevivência e conforto imediato. A lei do menor esforço, neste caso, é o que predomina o modo de pensar social; e, claramente, não poderia ser nada diferente quando o esquema do Estado tem muito mais interesse para que permaneça assim e a população em massa, por sua vez, não vê porque não ser conforme está única forma que conhece. O estímulo social naturalmente instigado, e de modo quase imperceptível, é para que permaneça sem nenhuma variação pois é através desse estado de inércia acompanhada de uma dada distração ininterrupta que permite o desenvolvimento de tudo aquilo que há de mais medonho, injusto e ameaçador na manutenção do poder social. Paratanto, o poder que se pretende conquistar institucional e territorialmente não pode ser concretizado, tampouco mantido a longo prazo, sem a conquista da simpatia benevolente e mesmo determinada do povo, aquele que realmente possibilita os passos do líder. Ora, quem conquista as mentes conquista qualquer coisa quando o mundo está ao seu lado, por isso a ideologia como instrumento de controle se faz tão sedutora e necessária...

Quando ainda se é jovem, o recurso dessa plasticidade analítica ainda se dá em sobra na constituição que se encontra o organismo, somado a tendência indagadora e vivaz que se encontra o indivíduo. Quanto mais próximo da atualidade fica cada vez mais comum encontrarmos traços de insatisfação, confrontamento e iconoclastia em gerações emergentes que passam a, não sem suas razões, duvidar de antigas crenças e valores cultivados pelos pais, se não a ridicularizá-los, desprezá-los numa tentativa de se afastar da imagem paterna. Somado ainda ao fascínio pelo novo mundo que percebem agora, mais capazes e melhores que antes em muitos aspectos, com seus novos recursos de abstrações e a sensação (ou mesmo necessidade) de poder lidar por conta própria com suas pendências, seus interesses, sua vida, enfim. Um constante e progressivo desligamento daqueles que até aqui lhe serviram de referência.

É como aquele recém nascido perdido no escuro que via na figura do pai o ser de maior segurança tal como nenhum outro poderia ser. Ele sabe que basta um mínimo soluço para que o colo venha lhe acudir, nisso, usa seu choro como recurso de socorro em meio a sua total impotência. Porém, tão logo cresce, percebe que seu progenitor é bem menor e menos desejável do que enxergava ser quando na altura e idade da sua inocência. Seu símbolo de segurança é, na verdade, vacilante; mortal e falho como qualquer outro e, mais ainda, assim como ele, veio nu ao mundo e ainda hoje suscetível ao choro tal como o filho.

A impressão que nos sucede às vezes é que somos muito mais espertos, mais inventivos, produtivos e por vezes até invencíveis e bem menos vacilantes do que esses que vieram antes. Mas o que dizer então daqueles que fizeram toda aquela revolução cultural dos anos 70 e 80? Daqueles que cantaram e protestaram o lema da tríade sagrada "sexo, drogas & rock n'roll"? Que foram os primeiros a descobrir na história a liberdade sexual com a invenção do contraceptivo que permitiu aproveitar seus desejos numa intensidade nunca antes experimentada daquela forma? E que foram aqueles caras que, aqui mesmo neste país, foram a resistência contra as forças de um poder tirânico e ditatorial? Bem, a maioria se tornaram o que hoje conhecemos como pais, tios e tias.

É curioso, e triste, mas esse é o encaminhamento natural da condição humana: ir se atrofiando com o tempo, em todas as suas dimensões: a aparente, o corpo e a mente, até não sobrar nada. Até não sobrar um "eu" verdadeiro, já sem rosto ou espírito próprio. A aparência, se desfez; o corpo, desfaleceu; e a mente, não se sabe bem dizer acerca de si mesma. Não há mais nada, apenas emblemas baratos produzidos por terceiros, coisas artificiais plantadas ao custo de uma pedagogia baseada na repetição e insistência, como "mitos" e "patriotismo" que não significam nada. E quando não se sabe, só sobra o orgulho. Vazio e estúpido, que só sabe se arrogar e ser arrogante. É esse mesmo orgulho que não se enverga para aprender nada daquilo que supostamente imagina já saber que vai enraizando sentidos e ideias equivocadas. Com pouco tempo, ao passar dos anos, tudo vai se transformando numa coisa já calcificada que não se tem mais como mexer, articular nem alterar. Não tem mais cartilagem sobrando nos seus pensamentos e nas suas ideologias. Já enrijeceu tudo.

E assim, as esperanças de boa mudança e conversão vão se esgotando até não ter mais volta, pois não se está mais lidando com um material-mente articulado, cartilaginoso, flexível. Se está lidando com ossos endurecidos, calcificados e porosos, velhos, com as suas doenças ideológicas cheias de orgulho, com as suas loucuras e neuroses que já se transformaram agora em matrizes padrão de pensamento (ou de ausência de, em certo sentido), acomodadas a um único modo de processar e agir. Isso é velhice.

Por isso é preciso aprender a ir quebrando esse vicioso processo desde cedo, o quanto antes possível. É certo que toda mania de devoção determinada a um engano, a convicção de uma versão gravemente deturpada da realidade, a devoção fiel a um sujeito alçado ao posto de ídolo irrefutável têm, todas, início de uma mesma origem que é a desse processo enviesado de concepção dos valores morais previamente estabelecidos, e nunca da capacidade de uma visualização para além desse primeiro nível de análise, ainda tão primitiva e limitada. Eis aqui a importância crucial da plasticidade como fundamento para uma cognição crítica.

Fazer essa análise de si mesmo e todas as ideias, as ideias sabidas e aquelas ocultas que a gente nem percebe que pensa – sem todavia pensar (conscientemente) sobre elas. Do contrário, essas ideias infundadas tendem a crescer e se arraigar.


IV. A TEORIA DE LEV VYGOTSKY

VIGOTSKI E A PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA

A psicologia está em constante mudança e evolução, isto é, vão surgindo a todo momento novas concepções, gerando uma transformação constante infinita. A teoria sócio-histórica começa a surgir no Ocidente e ganha valor a partir dos anos 70, transformando-se em parâmetro para as outras psicologias, sendo elas: a Psicologia do Desenvolvimento, a Psicologia Social e a Educação.

Através da teoria de Vigotsky, foi possível a busca por uma psicologia que se sobrepusesse aos costumes positivistas e analisasse o homem e sua construção em meio a sociedade. Para ele, o mundo está em constante transformação, a formação está correlacionada ao mundo material, e aos moldes de vida construídos durante o transcorrer da humanidade.

Por causa de sua morte precoce, Vigotsky não pôde concluir sua teoria, mas deixou alguns princípios, sendo eles:

• A percepção dos homens não poderia ser obtida por meio das funções animais, porque os mesmos não possuem vida social e cultural. (crítica a Skinny)
• A compreensão superior humana não deveria ser interpretada somente como uma consequência da maturação natural, tendo em vista que o organismo humano já possui tais habilidades.
• A linguagem e a ideia humana possuem princípio social, tendo em vista que a cultura faz parte do seu processo de evolução e deve ser incluída nas pesquisas e esclarecimentos.
• O comportamento e a consciência são características levadas em consideração durante o processo, não podendo ser dispensados pela Psicologia.

TEORIA MARXISTA PARA A PSICOLOGIA

• Todas as ocorrências devem ser levadas em consideração durante o processo de estudo, tendo como base as mudanças contínuas e variações constantes.
• O indivíduo estabelece e se modifica ao agir sobre a natureza com suas ações e recursos
• Faz- se necessário o acompanhamento do progresso dos fenômenos, não podendo realizar nenhum fundamento a partir da instabilidade momentânea em que vivemos.
• A variação individual possui sua origem nas circunstâncias sociais.
Não é a consciência do homem que afeta a forma de viver, mas a forma de viver que afeta a sua forma de se relacionar com o mundo.

AS NOÇÕES BÁSICAS DA PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA NO BRASIL

A psicologia sócio-histórica brasileira, tem sido construída embasada com o olhar no qual se analisa o posicionamento liberal do homem, que nos fornece ideias como:

• O homem é visto como ser independente e que desenvolve sua individualidade ao longo de sua evolução.
• A relação incompatível entre o homem e seu meio social, sendo essa perpetuando ao longo de sua trajetória, pois se adapta de acordo seus desejos e ambições.

• O fenômeno psicológico é encarado como aprisionamento no homem e idealizado como o verdadeiro eu.

A psicologia sócio-histórica compreende que essas perspectivas contribuíram para a construção da ciência no qual o mundo psicológico é totalmente divergente do campo social e material, sendo definido então de forma abstrata, já existente, esperando para ser desenvolvido.

• A evolução constante da espécie humana não permite que haja existência ou natureza humana, elas se transformam ao longo da vida.
• A inserção social do homem determina suas individualidades e relações. (p.88)
• O ser humano é visto como se único mas não autônomo, é necessário uma interação para que haja evolução. O homem é um ser ativo, social e histórico, sua formação de caráter e desenvolvimento se dá por meio de suas necessidades, seus anseios são gerados socialmente, historicamente e biologicamente.

• As conexões definem o lugar de cada indivíduo e sua obrigação como ser social.
• A partir do momento em que o homem cessa suas necessidades, novas necessidades são geradas, novos parâmetros são criados e novamente, serão saciados.
• As habilidades que são descobertas pelos homens se tornam aptidões para as gerações seguintes. (p.89)

A linguagem é um mecanismo essencial para o processo de evolução e maturação do indivíduo, sendo também um fator histórico e social. A linguagem também é um recurso de mediação no que tange a apropriação de outros instrumentos, o homem se apropria de todos conceitos sociais. O espaço também interfere na ação e existência, pois cada local vive suas particularidades. (p.90)

PRINCÍPIOS DA TEORIA:

Para Vigotski, o desenvolvimento intelectual das crianças está diretamente ligado à cultura, através da interação entre o meio externo cultural e o desenvolvimento interno do ser orgânico. Do mesmo modo, o pensador da teoria evidencia seu pensamento baseado na interação com o contexto, os seres interagem com o meio externo mediado pela linguagem e cultura, esse movimento é entendido como interação ativa entre ambiente e organismo. Em suma, Vigostki em sua teoria propõe que as crianças nascem com funções mentais básicas, como percepção e memória, que se transformam em funções mentais novas e mais elaboradas posteriormente ao entrarem em contato com a cultura (p.312).

Posteriormente, a teoria traz como base a linguagem, o signo e significante, onde que para um ser humano adulto não é possível dizer acerca de atenção, percepção, sensação e memória sem estar atrelado a linguagem. Assim, é a partir dela que as funções psicológicas básicas se transformam em complexas. Ainda de forma complementar, sem a linguagem não existiríamos enquanto sujeitos psicológicos (o sujeito psicológico é totalmente baseado na linguagem). Ademais, para Vigotski, mesmo que tenhamos uma predisposição filogenética para o desenvolvimento de atenção, percepção, sensação, e memória, elas só se tornam complexas porque tem a transformação mediada pela cultura que fará delas funções mentais superiores.

As funções mentais superiores anteriormente citadas são mais complexas em que permitem a consciência e o controle do pensamento, através dela podemos pensar e fazer associações. Já as funções mentais mais básicas para o funcionamento do organismo como ações reflexivas, estão atreladas às funções elementares. Descritivamente elas são:

Elementares: embora animais consigam aprender determinados comportamentos como apagar a luz, eles não conseguem fazer um julgamento de quando apagar ou deixar acesa, pois essa é uma avaliação cognitiva, baseada na subjetividade do contexto;
Superiores: tomada de decisão a partir de uma informação nova, a partir de uma informação nova, a partir de uma mudança de contexto. Possui um caráter voluntário e intencional; Entrelaçadas as funções acima temos:
Percepção: ocorre ao longo do desenvolvimento, distancia das determinações fisiológicas dos órgãos sensoriais, passa a ser mediada por conteúdos culturais;
Atenção: Para o bebê o mecanismo de atenção é involuntário. No entanto, ao longo do desenvolvimento a atenção é voluntária, através da relevância;
Memória: Distinção entre memória “natural” e memória mediada por signos, sendo a natural involuntária registrada no sistema neurológico e a de signos mediada por outros instrumentos que servem de lembrete, como uma ampliação da capacidade neurológica.

Objetivamente o autor possuía o intuito de compreender o desenvolvimento mental dos seres humanos ao longo de sua história e do seu crescimento individual. Além disso, ele era um teórico construtivista e genético do desenvolvimento, porque sua teoria buscava entender a origem do processo e o desenvolvimento a partir dessa origem, é dado o nome genético pois está relacionado à gênese do processo. De novo, é importante enfatizar que Vigostki infere elevada importância ao processo de aprendizagem no crescimento maturacional do indivíduo, onde primeiro ocorre o aprendizado e depois o desenvolvimento.

Aprendizado: Ação que ocorre quando o indivíduo, a partir do contato com o meio externo, ambiente e outras pessoas, adquire informações, conhecimento e habilidades por meio de sua experiência. Com isso, há uma construção própria do sujeito quanto ao seu desenvolvimento (daí o termo construtivista atrelado a Vigotski). Lembrando ainda que para ele o desenvolvimento não ocorre na ausência de situações favoráveis (propícias) para o desenvolvimento.


V. A TEORIA DE PIAGET

Jean William Fritz Piaget nasceu na Suíça em 1896 em Neuchátel, vindo a falecer em 1980. Foi biólogo e psicólogo, tido como um dos maiores pensadores do século XX ao fundar a Epistemologia Genética, uma teoria baseada nos estudos de gênese psicológica do pensamento que buscava entender como o homem constrói sua organização de conhecimento, permitindo-nos assim ter melhor noção de porque o indivíduo pode vir a se comportar de maneira distinta em dadas situações e fases de sua vida.

De acordo com a teoria de Piaget, a criança tem a capacidade de percepção e compreensão, de modo a se comportar de diferentes maneiras ao longo de sua infância, de forma que haveria muitos fatores que contribuem para essas reações. Dentre os vários fatores que influenciam o desenvolvimento humano, podemos citar:

• A Hereditariedade: tal como pesquisas já demonstraram, o valor genético na concepção de Piaget desempenha papel importante nessa formação e relação da criança com o meio. Aspectos como a sua inteligência, neste caso, sofreriam influência de uma carga genética.
• O crescimento orgânico e estrutura física: como a altura ou a estrutura do esqueleto, esses são outros aspectos de influência direta por interferirem no modo como o indivíduo manipula e se relaciona com o mundo à sua volta.
• A maturação neurofisiológica: consiste numa gama de capacidades de ordem neurológica que afetam desde sua ação motora até faculdades de construções complexas, como segurar um objetos ou a alfabetização.

Piaget nos traz uma noção do desenvolvimento dividido em estágios os quais denominou, respectivamente, de estágio sensório-motor, pré-operacional, estágios de operações concretas e operações formais.

Estágio sensório-motor (dos 0 aos 2 anos)
Nesse estágio primal temos as habilidades da criança sendo desenvolvidas, como sensações e a coordenação motora. Nele, o recurso cognitivo ainda é bem limitado, todavia o indivíduo já tem o primeiro contato e também a suas primeiras visualizações do mundo, iniciando assim sua faculdade de reconhecimento de objetos.

Estágio pré-operacional (dos 2 aos 7 anos)
Após adquirida a faculdade da fala, a criança começa a nomear os objetos que a rodeiam. Simultaneamente, adquire também a capacidade da recordação para lembrar tanto dos objetos como da localização onde os viu pela última. Aqui é possível percebermos a presença da representação mental sendo dominada gradativamente.

Estágio das operações concretas (dos 7 aos 11 anos)
Se até o segundo estágio a criança construía sua interpretação de maneira limitada a depender de esboços escassos sobre o cenário ao seu redor, nesse estágio ela desenvolveu uma capacidade cognitiva tamanha que lhe permite encontrar resolução concreta de problemas que antes não era capaz de depreender. A criança agora tem uma capacidade interpretativa bem maior, dispondo de outras formas de expressão e visualização. Conceitos mais abstratos começam a ser interiorizados e desenvolvidos, tais como valores numéricos (grandeza), operações matemáticas, dentre outros.

Estágio das operações formais (dos 11 anos aos 14 anos)
A cognição é capaz de visualizar e oferecer resolução concreta a problemas que exigem formulações mais avançadas. A capacidade interpretativa é dilatada e enriquecida com novas associações de experiência própria. Ou seja, nesse estágio o indivíduo já é capaz de responder por si mesmo, agindo autonomamente e formulando cadeias de conceitos que tendem a buscar significados para o seu mundo pessoal.

Em sua pesquisa acerca da genealogia do conhecimento, Piaget detalha três processos que considera fundamental para a aquisição de um conhecimento os quais chamou de:

Assimilação – Um processo cognitivo onde uma pessoa integra um novo dado percentual, motor ou conceitual nos esquema ou padrões já conhecidos a partir de suas experiências anteriores. É, no caso do dado motor, como quando precisamos aprender a andar de moto e utilizamos a memória motora do andar de bicicleta que já dominamos para, através dessa consideração base, aprender a dirigir uma moto.

Acomodação – No plano conceitual sabemos que uma moto não é uma bicicleta devido a características muito distintas que uma possui em relação a outra, tanto que se faz necessário uma outra categorização. A acomodação se refere a esse tipo de ação que ocorre à nível do intelecto, quando percebemos que determinado dado necessita de uma consideração diferente para poder então ser apropriadamente conhecido, no que se faz necessário a criação de um esquema senão um uma modificação desse.

Adaptação e Organização – Funções invariantes. A adaptação e Organização ocorre toda vez que somos levados a nos adaptar em função do ambiente com o qual nos relacionamos e depreendemos novos conhecimentos que nos levam a dinâmica de nos organizarmos e adaptarmos intelectualmente ao longo da vida.

Para Piaget o conhecimento tem um valor muito preciso e particular, a começar por distingui-lo da informação. Enquanto a informação é um dado meramente acessado, o conhecimento é a síntese que o indivíduo realiza com esse dado ao relacioná-lo com os demais em contraste e extrair desse processo uma utilidade prática para si. O conhecimento, portanto, tem a ver com aprendizado prático obtido pelo processamento de uma experiência vivida, de modo que o que se aprende não fica retido como mera gnose, estática e enfadonha, servindo mais de peso e acúmulo intelectual do que verdadeiro recurso que se articula e se inter-relaciona com outros conhecimentos aprendidos, outras situações e realidades testemunhadas e com ele mesmo enquanto pessoa, o transformando como indivíduo. A experiência a qual foi exposto torna-se agora parte dele e o próprio conteúdo observado passa a se fundir ao observador na medida em que ele o internaliza, isso é, que ele o apreende.

Ocorre o caso de algum conhecimento ser muito mais proveitoso do que muita informação, que tende mais desorientar o indivíduo que ajudá-lo. Infelizmente, observa-se fato semelhante acontecendo no ensino institucional contemporâneo, em que a escola apenas despeja um mundo de matérias aos alunos esperando que com isso, de algum jeito, eles venham encontrar algum tipo milagroso de orientação. Não apenas isso, mas também o caso da ausência de consideração por parte da escola com as observações dos seus alunos (assimilação e acomodação).

Em grande parte das vezes ela age de modo a muito mais atrapalhar do que auxiliar o aprendizado de seus alunos quando o ensino é baseado em um método normativo, no qual só existe chance para o acerto se a resposta dada à questão for aquela que a escola espera, com o mesmo tom e medida, sem sequer considerar a visão que o aluno teve para ter dado tal resposta. Ou seja, o ensino convencional contemporâneo acredita que só pode haver algum aprendizado se ocorrer conforme a sua forma de apresentar, interpretar e compreender determinado assunto. No entanto, ao contrário do que foi feito por muitos mestres, até na primeira era da aventura filosófica, qualquer forma de exposição, interpretação ou compreensão que não seja na linguagem adotada pela escola é tido como errado, quando na realidade não se está nem por um momento analisando os motivos do discurso apresentado – que pode e muito provavelmente está correto – sim uma forma diferente de concepção do mesmo; e que por isso é considerado errado, ainda que não sendo. Isso tudo ocorre porque a instituição escolar encara a característica da expressão dos seus alunos como se fosse um valor que determinasse a autenticidade das afirmações que eles fazem, e não como uma característica apenas. Não se valoriza a experiência pessoal no lugar que mais prega sobre educação.

Logo, ou o aluno aprende que para ser considerado em suas elaborações ele terá de subtrair justamente aquilo que poderia o levar mais próximo a compreensão (e nisso a escola acaba de ensinar que a "educação" será sempre a maior inimiga daquele sujeito), ou ele reconhece que, de fato, o problema não está na sua capacidade de compreender as coisas e sim na da escola em compreendê-lo. Nesse caso, a avaliação escolar não invalida em nada o seu entendimento, pois ele já apreendeu, mas passa a ser o principal elemento que atrapalha o seu aprendizado, ao não aceitar suas respostas fazendo com que ele passe a duvidar recorrentemente da compreensão que já havia sido alcançada e, consequentemente, também de sua própria capacidade de compreensão. Em suma, a escola muitas das vezes consegue fazer justamente o oposto daquilo o qual foi destinada, tudo por não considerar a possibilidade de chegar até aquela cadeira e perguntar: "o que você pensou para poder me responder isso?" ou "o que eu te fiz pensar com a minha pergunta esperando que você me desse a minha resposta?"

                                                                                    ❂

(...)A crack on the head     Uma rachadura na cabeça      
  Is what you get for not asking     É o que você ganha por não perguntar
And a crack on the head     E uma rachadura na cabeça      
        Is what you get for asking    É o que você ganha por perguntar (...)¹

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1- (THE SMITHS. Barbarism Begins at Home. Liverpool: Amazon; Ridge Farm, Surrey, 1984. 2a estrofe)


CONCLUSÃO

Concluímos assim que os estudos acerca do desenvolvimento humano prestam uma grande contribuição para uma compreensão mais ampla e cientificamente embasada sobre o humano enquanto objeto de estudo, e enfatizamos, com o que foi exposto, a importância da tolerância à diversidade e o respeito mútuo.

Finalmente, notamos ainda que a abordagem da óptica psicológica sobre o tema do Desenvolvimento Humano é de suma importância para uma adequada atuação do professor em sala de aula por oferecer a este uma visão racional dos aspectos pessoais e de aprendizagem dos seus alunos.


\ REFERÊNCIAS \

BOCK, ANA MERCÊS; FURTADO, ODAIR E TEIXEIRA, MARIA DE LOURDES TRASSI. Psicologias. Uma Introdução ao Estudo de Psicologias - 13a ed. 1999. 3. São Paulo: Saraiva, 2001.
CASTORINA, José A.; CARRETERO, Mario. Desenvolvimento Cognitivo e Educação: Os Inícios do Conhecimento. São Paulo: Penso, 2014.
OSORIO, Luiz Carlos. Adolescente Hoje - 2a ed. 1959. Porto Alegre: ArtMed, 1989
XAVIER, ALESSANDRA SILVA E NUNES, ANA IGNEZ BELÉM LIMA. Psicologia do Desenvolvimento - 4a ed. Fortaleza: EdUECE, 2015.
PALÁCIOS, J. Psicologia Evolutiva: conceito, enfoques, controvérsias e métodos. In: COLL, C.; MARCHESI, A.; PALACIOS, J. Desenvolvimento psicológico e educação: Psicologia Evolutiva. Porto Alegre: Artmed, 2004. v. 1.
SHAFFER, D. R.; KIPP, K. Desenvolvimento cognitivo: a teoria de Piaget e a visão sociocultural de Vygotsky. In: Psicologia do Desenvolvimento: infância e adolescência. São Paulo: Cengage Learning, 2012. 


UFES (Universidade Federal do Espírito Santo) 


30 de julho de 2021. 2ª ed.

Vila Velha, ES 


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Trabalho realizado no 2º período do curso de Licenciatura em Língua Portuguesa & Literatura de Língua Portuguesa da UFES, por Gabriel Rocha.

Professor: MAYARA GAMA LIMA | Disciplina: Psicologia da Educação, segundo semestre de 2021.

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