Intervenção de bom-senso, já! ‒ Sobre o contexto da greve dos caminhoneiros


Quando saímos para a rua reivindicando impostos e tarifas justas sobre o que quer que seja, mas não abusivas nem que sejam incoerentes quanto ao pouco que se ganha trabalhando e ao muito que é cobrado para que se possa trabalhar, temos que saber ao certo o que estamos pedindo com isto.

Se vivenciamos uma situação de injustiça no país que vivemos, não abrimos mão da nossa liberdade imaginando que só com um sacrifício como esse poderemos restaurar a ordem e que esta é a única via para que haja justiça – mas lutamos por um governo mais justo.

O problema é que ainda tem muita gente, jovem, adulta e até idosa, que pensa que o mal está precisamente na democracia, seja por uma brutalidade infantil e rebelde da juventude ou por uma grande falta não só de conhecimento mas também de bom senso na infantilidade que se manifesta também na idade adulta, o que abre espaço perfeito para que esse convicto "sabe-tudo" seja manipulado e iludido; e quando já idoso, por um compreensível sentimento, mas nem por isso impassível, de desgaste, frustração e revolta por sucessivas desilusões com a ordem institucional sofridas ao longo de muitos anos e que a desesperançou de qualquer perspectiva real de melhora, somado, mais uma vez, a falta de bom senso.

De qualquer forma, o mal não está na democracia; menos ainda, a solução para as imperfeições que existem nela se encontra na sua ausência, trocando-a por um regime autoritário. Um poder opressor e infinitamente pior que as imperfeições já existentes na democracia, porém neste existentes como condição nativa, que nos oferece, não a concreção da justiça, mas uma sensação dela enquanto as maiores atrocidades são feitas secretamente. E no lugar da denúncia dos escândalos cometidos com o aval do nosso consentimento – uma vez que rogamos uma ditadura – se tenha a censura e uma propaganda de falsa paz.

Meu Deus! Será que é tão difícil entender que é impossível haver justiça de verdade onde só há uma eterna paz de mentira?

Se queremos eliminar o mal que governa, eliminamos o governo, não a base que dá a chance tanto para o que tem a possibilidade de ser melhor, e deve, quanto o que quer inviabilizar qualquer outra possibilidade; de mudança de posse, de troca de governos, de inclusão e de liberdade para que se aprimore a democracia.

O mal não está na democracia, está é no governo. Neste governo e em quem atualmente o governa, e como tem governado.

O grande mal do povo brasileiro está em não saber pedir; e não se sabe pedir porque não conhecem nem o seu passado, quanto mais saberão o que querem para o seu futuro para reinvindicar com conscientização o agora?

O que escrevo aqui não é, de forma alguma, uma crítica a todos os caminhoneiros nem uma adesão a totalidade da manifestação deles, sim uma tentativa de desvincular requisições que foram tomando conta do que de início foi uma causa séria.

No meio de toda essa confusão nós temos caminhoneiros, pessoas, famílias que sofrem de verdade, em vários setores e em diferentes intensidades. Também temos pessoas que pensam que é colocando general no poder que tudo estará solucionado.

Baumann disse que segurança sem liberdade é escravidão. Mas eu ainda prefiro ficar com O Rappa, só dessa vez... Paz sem voz, não é paz: é medo.
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Gabriel Rocha
30.05.18

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