Bohemia Azul (Poema)


Bohemia Azul

Bem aqui no meu interior
Mastigando tábua de carne seca, esquecida,
Fermentando com o aroma e o sabor
Demasiadamente amargo,
Vem escorrendo à minha garganta
Preenchendo solitárias multidões,
Despejando os ressentimentos mais dessentidos
Sob e'm mim.

Eu estou morrendo em mim mesmo
Estou provando o que sou,
Sou morte, desde o começo,
Condenado a uma vida inteira.
Meu apetite dilui-se ao álcool
Afogando no fundo do copo o ardor de um passado,
Fardos pesados, cevada gelada;
Virando pra dentro.

Engulo o gosto que produzo
Me embrulha o desgosto que me lançou,
Cuspido à luz deste mundo
Onde ninguém mais brilha.
Destilo-me de tudo em nudo
Até que só me reste de resto ao mundo,
Faço fumaça e estufa da nuvem de qualquer futuro,
Eu me sustento, eu me engulo.

Destino, me guia, pois Deus fez os céus cantarem luto
Ao tolo que encontra canto no pranto de um azul
Só um tanto mais profundo.
Eu me sustento, me engulo.
Este é meu lugar, é o meu lar,

É o meu boteco, meu bar,
Onde eu me nego a respirar.

“Bohemia Azul” - Poema nº6 | Gabriel Rocha | 30.01.18

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